AJAYÔ TEATRO EM PÉ
A "companhia mundialmente desconhecida"
Desde a estreia do primeiro espetáculo em janeiro de 2016, a Ajayô Teatro Em Pé anuncia-se como uma "companhia mundialmente desconhecida". A expressão não é nenhuma novidade para quem pesquisa a arte da palhaçaria. É uma expressão irmã de "só se fala em outra coisa" e prima de "vocês não podem deixar de perder". Para a Ajayô, ela oficializa-se como uma brincadeira que reflete o seu entorno no momento da fundação. Nascida dentro do Departamento de Artes da Universidade Federal de Ouro Preto, a Ajayô via curiosos relatos de colegas de curso com verdadeira obsessão por conexões, feitos, redes de conhecidos. "Fui discípulo de fulano de tal na residência artística pela Grécia", "meu amigo é o cenógrafo do grupo tal", "porque quando me apresentei no Uzbequistão", "fulana de tal? a gente fazia oficina de teatro juntos em Londres". A Ajayô foi fundada por Dhu Rocha e Frederico Contarini que não vinham de grandes centros nem tinham amigos famosos. Mesmo assim, queriam fazer teatro e acreditavam no teatro de grupo, nas conexões dos interiores. Antes da Ajayô existia a Artes Cênicas Omkara com um elenco consideravelmente grande. Antes da Omkara, já havia o Arrepiendeivos. Todos os projetos bebiam da mesma fonte, traziam como base os mesmos ideais. Arrepiendeivos, Omkara e Ajayô já queriam ser um grupo de teatro bem sucedido. Prestes a comemorar 10 anos de existência, a Ajayô continua mundialmente desconhecida. Entrementes, nunca parou. Nunca deixou de produzir teatro. Viajou pelo sudeste timidamente, conhece a região dos Inconfidentes, é falada em Ouro Preto, é lembrada no distrito de Cachoeira do Campo. Já foi fotografada por lentes distintas da América Latina. Mas continua mundialmente desconhecida. Podem perguntar! Cheguem a qualquer país do globo terrestre e mencionem a Ajayô Teatro Em Pé e aguardem a pergunta "ajay o quê?". Dependendo do lugar, podem até mencionar o cantor e compositor Carlinhos Brown. Ajayoooooooooooô. É isso? Tipo Carlinhos? Ajayô? Bem, já que estamos aqui, a Ajayô se chama assim por causa da Gal Costa e do álbum "Estratosférica". Na canção homônima assinada por Pupillo, Junio Barreto e Céu, a saudosa fa-tal canta "Alfazema lava / Meio-dia / Passeio abre / Cortejo anunciou / Você vem de circular / De colar / Continhas brancas / Vestes, brilho / Manto azul, ajaiô / Vai de volta de encontrar / Das ladeiras, dos sobrados / Das calçadas de pisar / Tu chegasse numa nave / Colorida de acender / Festeja festa / Pano florido / Abre, clareia / Flor amazônica / Vem das águas de banhar / (...) / Ah, ah / Você vai de circular / Ah, ah / Alfazema ajaiô". Hoje a mundialmente desconhecida lê estratosférica como um encontro delicioso que provavelmente aconteceu no cortejo do Filhos de Gandhi durante um carnaval em Salvador. Mas voltando ainda mais na espiral do tempo, desde "Desassossego: só dói quando eu respiro" (Omkara, 2012 - 2013) que Dhu Rocha e Gio de Oliveira preparam o momento da cena com devoção aos Doces Bárbaros. Com amor no coração preparam a invasão até hoje. Se na Omkara entravam na cidade amada, na Ajayô haviam colares, continhas brancas, alfazema, pano florido e, principalmente, ladeiras, sobrados e calçadas de pisar. Era Ouro Preto, mas poderia ser Salvador. Em resumo, de alguma forma, os anos de graduação em Ouro Preto despertavam sentimentos que não tinham nome, mas tinham trilha sonora. E a voz das reuniões, cafés, ensaios, planejamentos, comemorações sempre era ou de Gal, ou de Bethânia, ou de Gil ou de Caetano junto de outros tantos nomes importantes de nossa música popular. Agora sabemos que nosso trabalho é celebrar o teatro-festa. A festa mora em nós e nossa festa é Ajayô. A companhia mudou bastante em 10 anos. Seria terrível se não tivesse mudado. O que não mudou, ainda bem, é que "noooossos planos são muito booooons". Ajayô!
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